A tentação de comer um docinho depois do almoço, apostar em um bolo para acompanhar o café ou de comer frituras como lanche da tarde é uma sensação normal em um dia estressante de serviço. Mas normalmente, quando estamos no ambiente de trabalho, é mais difícil concretizar esses desejos. Seja porque levamos o lanche saudável pronto para driblar o impulso ou porque a besteira que queremos não está disponível.
Durante a pandemia do coronavírus, somando o estresse, ansiedade e a sensação de insegurança geral, alguns impulsos alimentares para compensar os sentimentos negativos podem ser ainda maiores e a geladeira, o armário e o fogão, estão logo ali, a poucos passos de distância, no caso de quem conseguiu trabalhar de casa.
Nas redes sociais, surgiram muitas brincadeiras referentes ao ganho de peso durante o período de isolamento, o que resultou em diversas críticas quanto à gordofobia relacionada às publicações.
O foco não deve ser na aparência, mas é importante evitar flutuações no peso nesse período. O nutricionista João Paulo Romeu de Araujo Lima explica que o excesso de peso geralmente é proveniente do sedentarismo, má alimentação ou alguma doença pré-existente, todos aspectos que afetam a saúde e o sistema imunológico diretamente.
E não se trata apenas do ganho de peso, mas da escolha de uma alimentação pouco nutritiva, mesmo para quem não tem tendência para engordar ou está abaixo do peso considerado adequado pelo cálculo do Índice de Massa Corporal. O que também é um indicativo de sistema imune prejudicado, uma vez que, em tese, o organismo não está recebendo os nutrientes necessários para se manter saudável.
Thaís Regina Mezzomo, coordenadora do curso de Nutrição do Centro Universitário Internacional Uninter, esclarece que a alimentação desregulada, baseada em delivery e industrializados, mesmo se a pessoa consuma pouco, se forem apenas alimentos sem valor nutricional, podem desencadear uma série de doenças que as tornam mais vulneráveis ao coronavírus.
“Esses alimentos, de forma geral, apresentam maior teor de gorduras saturadas, pouquíssimas fibras e micronutrientes, o que pode acarretar em sobrepeso, obesidade, diabetes mellitus, insônia, disfunção da tireoide, queda de cabelos, unhas fracas, queda da imunidade, constipação intestinal, anemia, desnutrição, piora de doenças crônicas existentes, entre muitos outros problemas”, alerta Thaís.
Existem, ainda, pessoas que não conseguem se alimentar devido às dificuldades emocionais desencadeadas com mais força pelo isolamento. Nesses casos, a fraqueza, queda de rendimento, dores de cabeça e tonturas são alguns dos sintomas que podem surgir de forma mais imediata.
Planejamento e rotina para manter o equilíbrio
Segundo os nutricionistas, planejamento e rotina são as medidas principais para conseguir manter a alimentação equilibrada. São os métodos usados pela educadora física Márcia Janete Colognese, 48 anos, para não perder o controle durante o isolamento social.
Márcia tem uma rotina bem definida e dentro do possível, não alterou em virtude da pandemia. Ela se acorda às 5h30, toma um café da manhã de acordo com a dieta proposta pelo nutricionista e corre ou caminha por uma hora e meia a duas horas. Antes, o exercício era feito na rua e depois ela seguia para o treino funcional na academia.
Agora, faz tudo em casa. “Tenho a sorte de ter quintal e espaço para me exercitar, corro e faço o funcional. A academia que malho, quando saíram os decretos, liberou os alunos para que pegassem alguns equipamentos para treinar em casa”, revela.
Depois, tem o lanche pós-treino e a preparação para o trabalho antes do almoço. Fazendo home office, ela decidiu manter os mesmos horários. “Eu finjo que vou ao trabalho e faço tudo igual, às 15h faço um lanche leve, como uma castanha e no fim da tarde uma fruta”, conta. De noite, Márcia faz apenas um jantar leve.
Márcia conta que o isolamento faz com que seja mais difícil manter a dieta à risca e que a geladeira logo ali, não facilita. Em momentos de muita ansiedade e apreensão em decorrência do cenário nacional e mundial, ela acabou fugindo da dieta e comendo doces.
“Liguei para o nutricionista com vontade de comer a casa toda. É muita coisa negativa e notícias ruins, o doce traz aquela sensação boa, parece mágica”, brinca. Porém, João Paulo explica que o doce tem um caráter viciante e em excesso, não ajuda no processo, apenas o dificulta mais.
Com parcimônia, no entanto, o doce e comidas não tão nutritivas em um dia específico da semana podem ser o alívio necessário em um período em que todos precisamos de certos tipos de conforto. Márcia conta que seu dia “do lixo” costumava ser aos domingos, mas durante a quarentena ela escolhe o dia em que se sente mais pra baixo ou mais preocupada com a situação para comer besteiras.
Fonte: Correio Braziliense, escrita por Ailim Cabral